terça-feira, 12 de outubro de 2010

Que saudade de Dom José Maria Pires.


Era um padre ocupado. Muito ocupado. Tão ocupado que não lhe sobrava tempo para gravar vídeos, para aparecer. Antes, preferia enfrentar as injustiças. E ajudou tantos e tantas a fugirem, quando a morte imposta pela ditadura batia à porta, que foi assim uma espécie de anjo protetor.

Adepto da Não violência liderava lutas, sempre pregando o diálogo, a persistência. Defendia a desobediência às leis e ordens superiores, mas só aquelas prejudiciais à vida do povo. Os estudantes, vítimas de um momento político tenebroso, viam no Arcebispo o grande exemplo. Por isso, era sempre convidado para ser o paraninfo geral dos universitários. Nunca pediram sua saída. Ao contrário, tê-lo por essas bandas, sabiam, era a prova da existência de milagres.

Quando achou que já era hora, Dom Pelé recolheu-se discretamente. Voltou para a sua terra natal, depois de muitos anos na Paraíba. De lá continua a dar exemplos, conselhos, instiga a luta por melhores dias. Ataca as injustiças.

E o que temos agora?
- Um bispo adepto da fanfarrice. Distante do povo, louco por um lugar ao sol no mundo das celebridades. E aí vale tudo. Já se aliou aos promotores de corrida de jegues para mandar mensagens tentando influenciar a eleição de Campina Grande em 2008. Já proibiu ornamentação de igreja, xingou deputado de caca, cocô de gato. Atacou movimentos legítimos da sociedade civil organizada, como o grito dos excluídos.

Lembra-me aquelas moças com quase nada de talento que adotam nome de fruta e se danam a rebolar por aí. E olha que o homem é poliglota, toca violão e dizem: gosta de festas, de passeios de barcos, lanchas, jet sky. Oriundo de família rica tem hábitos requintados, dizem. Não sei se é tudo isso. Graças a Deus passo longe de gente com o perfil desse padre.

A última dele foi postar um vídeo na internet acusando um partido de “implantar cultura da morte”. Uma tolice. Mas, saiu em todos os grandes jornais do país. O arcebispo conseguiu o que queria. Aparecer. Pena que junto levou a Paraíba. Ah! sim, porque sempre fica a impressão de que o Bispo nos representa. Somos atrasados assim?
Discordo de candidatos e candidatas em vários pontos. Mas, por mim podem dizer o que quiserem. Assim deve ser em um país livre. Discordo e não voto neles. Simples assim.

O Bispo até tem direito de dizer o que quiser. Este é um país livre. Mas, daí a priorizar ações para campanhas contra este ou aquele partido ou candidato, é falta do que fazer. E pior: ignora as reais necessidades do povo. Talvez isso tenha levado diversas entidades a assinarem documento afirmando que o Bispo “tem demonstrado atitudes que não condizem com sua função de pastor, cuja missão é reunir o rebanho e não espalhar a cizânia, como vem fazendo contra os pobres, na Paraíba".

Fico muito à vontade, pois não voto na candidata que o bispo ataca. Mas, qual é a diferença desse bispo para aqueles que postam vídeos atacando religiões? Dos que chutam santas? O homem tem acesso à mídia e desrespeita as pessoas que escolhem, livremente, determinado candidato ou candidata.

Em tempo: O aborto é um problema de saúde pública. 500 mil mulheres fazem aborto por ano no Brasil. 50 mil morrem em consequência de abortamentos. No Sistema Único de Saúde são atendidas cerca de 240 mil internações por abortamento/ano, a um custo unitário, mínimo, de R$ 125,00, totalizando R$ 29,7 milhões. É, portanto, um problema de saúde pública. Claro, que envolve filosofia, religião, mas de cada pessoa, individualmente. Por isso, é que deve ser assim:

A mulher decide. O estado garante. E a sociedade respeita.

E o Bispo deve procurar uma ocupação. Tem tempo demais. Talvez devesse trabalhar. Pelo menos pelos pobres do nosso estado.
Lídia Moura

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