sábado, 16 de março de 2013

A violência de Oscar Pistorius abre o armário cheio de esqueletos femininos




A violência contra as mulheres acontece em todas as camadas sociais, em todos os países, em todos os lugares e é cometida até por heróis.

Oscar Pistorius, por mais que negue, agora se sabe, tinha conduta de violência. Já havia anteriormente sido preso por ter agredido uma mulher, usava armas e terminou por dar quatro tiros na namorada. As razões serão apuradas. Mas, o fato é que Reeva Steenkamp foi assassinada.

A imprensa noticia que a modelo foi baleada quatro vezes, e os tiros atravessaram a porta de um banheiro da casa do atleta. Segundo a polícia, a vítima foi atingida por quatro impactos de bala de 9 (nove) milímetros que a atingiram na cabeça e em uma mão. Peritos afirmam que é comum a vítima colocar a mão na frente do rosto quando agredida, numa tentativa de buscar proteção.

Trazemos a história de Oscar, homem bem sucedido, herói do esporte, 26 anos, com curso superior, para lembrar que o rastro de violência pode ser encontrado em qualquer lugar. E por isso, combater a violência contra a mulher é assunto de Estado.

A África do Sul, país de Pistorius, ocupa o 19º lugar no mapa de homicídios que vitimam mulheres, de um total de 80 países estudados.
Nesse universo, a Finlândia, por exemplo, é um dos países mais desenvolvidos do mundo. Lá, há políticas públicas para a busca do bem-estar humano. O país foi classificado na 1ª posição do Índice de Prosperidade Legatum de 2009, que é baseado no desempenho econÃ?mico e na qualidade de vida.

Em determinado momento da história recente, a Finlândia tinha à frente do Parlamento uma primeira ministra, a presidente da Nokia, maior empresa de telefonia do mundo, sediada naquele país, era uma mulher, 42% do parlamento era de mulheres.

Ainda assim, estudos mostram que a Finlândia é campeã na violência contra a mulher. Em homicídios estar entre os quarenta países mais violentos, de um total de 80, sem, portanto, ter como esconder esse esqueleto no armário.

O Brasil ocupa a sétima posição com taxa de 4,4 homicídios a cada 100 mil mulheres (dados da OMS). Falamos de homicídios. No mais, uma mulher a agredida a cada 15 segundos. No país, a nossa Paraíba ocupa o 4º lugar. 

Dentre as capitais, João Pessoa ocupa o 2º lugar, atrás apenas de Vitória/ES.
Mesmo com esse quadro trágico este assunto é tido como enfadonho para uma grande parcela da sociedade. Falar de políticas públicas para as mulheres, de combate à violência e tido até como ato de segregação pelos mais ignorantes. Dia desses um machista da pior qualidade tentou, com um monte de palavras sem qualidade, convencer as mulheres de que falar sobre a nossa condição era ato de atraso.

O machista do baixo clero é assim. Quer ditar às mulheres como pensar até sobre elas mesmas. Não divulgo o tal texto para não transformar esse lixo em algo importante.

E de onde vem tanta violência, tanto desprezo pelas mulheres? Historicamente há alguns fatos que podem contribuir. O saber, a propriedade, o poder, eram reservado aos homens, ao ponto de se ter discutido em dado momento se a mulher tinha ou não alma. Isto perdurou até o Concílio de Trento (1545 a 1563) quando e definiu que nós mulheres não apenas temos almas, como somos as culpadas por todos os males, afinal fora uma mulher, Eva, quem aceitou a sugestão da serpente na tese criacionista. Com esse dogma a nossa interlocução com Deus carecia de um intermediário homem. Pai, marido, irmão, filho.

O direito de ler e de escrever era para os homens. Assim, é que nós mulheres levamos oito séculos do dia que inventaram as universidades até nelas podermos ingressar. O direito de votar merece um capítulo, mas foi proibido até 1893, quando a Nova Zelândia instituiu o voto para as mulheres. Foi necessário muita luta mundo afora para a conquista deste direito elementar. 

No Brasil ele só veio em 1932, embora se registre uma tentativa no Rio Grande do Norte, em 1928, com a eleição da prefeita Alzira Soriano, ato contestado pelo governo federal da época.

Até bem pouco tempo era comum em nosso país e no mundo, mulheres desempenharem as mesmas funções e receberem 30% menos que os salários dos homens. E Ainda há preconceitos, privilégios para os homens, dificuldades de ascensão profissional.

Durante muito tempo, as mulheres casadas estiveram sujeitas à autoridade do marido e as mulheres solteiras estiveram sujeitas à autoridade do pai. 

Assim, não podiam dispor de bens. Os países nórdicos foram os primeiros a reconhecer direitos econômicos e de propriedade às mulheres. O direito de herança foi reconhecido pela Noruega em 1845 e pela Finlândia em 1878.

As mulheres casadas passam a poder dispor do seu salário, em 1882, na Inglaterra, e em 1889 na Finlândia. Sim, mesmo trabalhando não podiam dispor de seus salários livremente.

Assim, é que homens se convenceram de que nós mulheres somos objetos feitos para servi-los e qualquer atitude que tenta mudar isto resulta em violência, às vezes moral, psicológica, quase sempre a violência é ampliada às agressões físicas e até a morte.

Há que se ter, portanto, uma mudança radical nessas relações. Homens e mulheres tem de fato que ser iguais. Nos direitos e deveres, na proteção do estado, no combate à violência, na recuperação dos conceitos históricos, no acesso ao poder, na tomado de decisões, no lugar na história.
E no patamar mais baixo, ajuda banindo o direito de reação com agressão, seja verbal ou física, que qualquer homem no planeta parece ter quase que como um direito de nascença.

Lídia Moura
Jornalista



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