quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

NO NOME E NA VIDA O KARMA DE UMA EPOPÉIA

Fiz homenagem justa e singela a Eneida Agra Maracajá. Mas, terminou que eu fui também homenageada com a publicação. A generosidade do amigo e colega de Profissão, Marcos Marinho, o levaram a publicar  assim em seu importante portal, apalavraonline:


Lídia Moura, que preside em nível estadual o Partido da Mobilização Nacional (PMN), jornalista de texto impecável, produziu a mais justa, e talvez por isso mesmo a mais bela, homenagem à sua ex-colega de secretariado na gestão Veneziano Vital do Rego – Eneida Agra Maracajá, que titulou a esvaziadissima Pasta da Cultura.
“No nome e na vida o Karma de uma Epopéia” é o título do artigo que Lídia postou hoje em seu novo espaço da internet, no portal ‘PBTudo’, onde esmerou-se produzindo uma história efervescente, bonita e principalmente necessária, pelo que traz de justo da vida dessa vibrante guerreira das artes e da cultura do Nordeste brasileiro.
O texto de Lídia Moura para Eneida merece ser lido e relido. A PALAVRA o transcreve por empréstimo, engrossando o raio de opções para que todos possam acessá-lo:

NO NOME E NA VIDA O KARMA DE UMA EPOPÉIA 
A Epopéia de Eneias conta a viagem do herói que vai de Tróia para a Península Itálica, onde, por missão divina, terá de fundar uma nova Tróia.
A dor maior da longa viagem é descrita no Livro Sexto – a Descida aos Infernos (Catábase). Eneias consulta Sibila de Cumas (fazedor de profecias em versos), que o manda cortar o ramo de ouro, o que lhe permitirá entrar no reino das sombras. Até para o inferno, às vezes é difícil.
Feito isso, Enéias encontra, já no Campo de Lágrimas, a Rainha Dido, que não lhe responde. Vê os males que afligem os homens, encontra os que morreram de amor e vê os companheiros de guerras. Passa por seres míticos e pelo Cão Cérbero, o guardião da porta do inferno, que, ao contrário dos guardiões comuns, sua missão não era impedir a entrada de ninguém, mas sim, não permitir que ninguém saísse de lá.
Neste ponto, o passado e o futuro se cruzam na consciência de Eneias. Dá-se o encontro com a morte e o passado, que permitirão prepará-lo para a vida e o futuro.
Após atravessar a sua sina, chega aos Campos Elísios. Lá, Anquises, seu pai, explica-lhe o sistema do mundo e lhe mostra os futuros heróis romanos, seus descendentes. Eneias era filho de Anquises com a Deusa Afrodite (grego)/ Vênus(nome romano).
A história mítica do surgimento de Roma é descrita em doze Cantos na Epopeia Eneida, de Virgílio, escrita, em versos, no século I A.C.
Guardadas as proporções, em se tratando de cultura e arte, temos o nosso Enéias, que na verdade é ela, mulher forjada no vaivém poético da memorialista e historiadora, Passinha (Dona Esmeraldina), sua mãe.
A mulher tenaz de quem falo teve a coragem de fazer arte com grandiosidade, onde e quando arte era algo menor. Encheu os pulmões e militou nesse terreno fértil, porém cheio de lágrimas, de onde se podem avistar os males, as dores, os dissabores.
Fez sempre, como ela mesma diz, com a escassez de recursos e sem perder de vista que cultura, sua missão maior, “é o conjunto das formas pelas quais os seres humanos experimentam suas relações com a natureza, com o espaço, com o tempo, uns com os outros, com o sagrado e o divino, com as mudanças e as permanências”.
Está nisso há muito e por isso mesmo permanece acima de governos, de quaisquer bandeiras ideológicas, das cores e brilhos fugazes das tolas campanhas eleitorais.
Imaginou e exercitou várias manifestações. A maior é o Festival de Inverno de Campina Grande, que trouxe o mundo até nós. Mas, haveremos de lembrar a Ciranda Cirandinha, a Virada Cultural, as Folias de Natal, a Ciranda da Cultura, o Frevereiro, a Poética em Sol Maior.
No institucional, ficou o Conselho Municipal de Cultura e as tentativas desesperadas de preservar o patrimônio cultural que pertence ao povo campinense.
Doeram em sua alma as infiltrações sem providências do Museu do Algodão – Estação Velha; a situação terminal da Biblioteca Municipal (que fora transferida da educação para a pasta da cultura); a diluição em água e pó, pela falta de cuidados e reparos, do Museu Histórico e Geográfico. A acústica do Teatro Municipal, outrora considerada uma das melhores do país, que restou impedindo o público de ouvir as vozes dos artistas. Coisas que os homens do poder haverão de explicar. Ela não conseguiu convencer de que a cultura, a arte, o patrimônio do povo deveriam estar acima dos cargos, das amizades, dos arranjos familiares, das futricas e disputas por espaços de poder.
Eneida Agra Maracajá tem no nome o karma de uma Epopéia. E não deixou de cumprir a sua própria. Fez da cultura e da arte a sua vida. Não descansou um só dia. Juntou-se a governos, mas se recusou ao pacto com Mefistófeles, uma das encarnações do mal que tem no poder uma de suas melhores representações. Não foi como a representação de Mephisto ou Fausto, que abandonam a sua consciência e se aproximam do poder para obter vantagens e ascender socialmente. Eneida, não! Agregou-se ao poder tão somente para obrigar os donos do poder a permitirem arte e cultura. Ensinou a vários deles que não há salvação fora deste eixo.
Cumpriu boa parte de sua Epopéia. Acaba de passar pelo Livro Sexto. Nesta parte, tentou falar com a Rainha Dido, que não mais lhe ouviu. Era, talvez, como a outra, a de Virgílio, apenas o espectro, resultado dos que a ladeavam. E Eneida era educada demais para esmurrar a mesa.
Na saída, Eneida produziu treze lâminas. Descreve o trabalho, destaca colaboradores, como Alexandre TAN. Mas, não diz tudo e nem dirá. Ficou até o dia 31 de dezembro, não se permitiu um minuto a menos. Produziu um relatório mais detalhado para o homem que lhe convenceu a ser parte do poder. Antes, apenas Evaldo Cruz (prefeito de Campina Grande de 1973-1977) havia formalizado esta participação.
Eneida segue a sua viagem, a sua Epopéia, na defesa da arte e da cultura. Dessa persistência haveremos de ter uma nova Campina, que, oxalá, compreenda o poder da criação do seu povo. Esta mulher tenaz não passará, tenho comigo esta esperança.

Lídia Moura

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