sábado, 5 de janeiro de 2013

Arre, estou farto de semideuses!˟


Fim de governo é assim. Se o ocupante do cargo perde a eleição começam a  vingança contra o povo, contra aliados, servidores e, não raras vezes, até contra jornalistas.  Os sabujos se ouriçam e começam o processo de canonização do (a) derrotado(a) e demonização do eleito(a). Beira ao ridículo.

Nesta lógica, várias cidades do Brasil foram invadidas pelo lixo. Aliás, sempre o lixo. Terceirizado, envolto em quantias estratosféricas, incinerando dinheiro público e, muitas vezes, responsável por verdadeiros ralos por onde escoam os valores que deveriam ir para escolas, creches, hospitais, casas populares e outros benefícios elementares para a população. Mas, ainda assim lá estavam eles, os sabujos, jurando que o lixo é ilusão de ótica ou culpa dos outros. Afinal,  “o inferno são os outros”.

Há que se mudar a conduta dos líderes. Não podem continuar pensando que uma prefeitura ou câmara ou assembleia é a casa deles, de modo que possam se apegar, bater pé e ficarem magoados quando não são reconduzidos ou o seu escolhido ou escolhida não é o eleito/a pelo povo.

E o equívoco de achar que quem elogiou não pode ter uma posição crítica!? Vários secretários, se honestos consigo mesmos, haverão de lembrar que em algum momento comentaram, entre os pares, sobre o que havia de errado, sobre aquele colega que se excedeu. Há caso até em  o sujeito foi rifado por recusar determinada ação. E estava certo: o que se pedia não era republicano.

Quanto aos jornalistas, vigiados e atacados, há que se compreender que mesmo quando saem de suas funções em veículos de comunicação e prestam assessorias, se trata apenas de um trabalho. Nada pessoal. Terminou o trabalho, próxima pauta, próxima assessoria ou até nada.  Não está escrito em nenhum lugar que, uma vez assessorando este, não se poderá trabalhar para aquele.  Ou que a sua simples função de jornalista não poderá mais ser exercida.

Fica mais fácil se entendermos que na política há similaridade de objetivos. O mais comum desses objetivos é a luta pelo poder.  E todos acreditam que estão na política para fazer o bem ao próximo. Ninguém aventa a possibilidade de resolver apenas a sua vidinha. Que o povo julgue.

Uma coisa, no entanto, é certa: não são todos anjos, nem demônios. E mais: hoje vociferam contra este, amanhã podem estar abraçados. Foi assim com todos até aqui. Nenhum,  nenhum mesmo, se manteve tão longe que não pudesse se aproximar na hora do aperto. Ou seja, a iminência de perder uma eleição.

Moral da estória: Deixa de tu ser besta, cabra! Que, para se juntarem ou se apartarem, a tua opinião não tem qualquer importância. E, em geral, fazem de modo que parece legítimo.

E quanto a você, meu chapa, que se acha o dono do poder, verdadeiro semideus, por aqui ainda tem um negócio chamado democracia. Burle, manipule, enlouqueça, que sem a maioria dos votos, não tem boquinha. E é bom arreganhar os dentes, pois o povo não gosta de gente chata, não.

Eu, de minha parte, tomo emprestado  versos de Fernando Pessoa:
“Arre, estou farto de semideuses!

˟Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Lídia Moura
Jornalista

OBS: O texto acima foi publicado no Portal www.pbtudo.com.br onde passei a escrever uma coluna semanal. 

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