sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Vital para o Brasil

O Senador Vital do Rego Filho tem dado uma contribuição extraordinária para a Paraíba. Em seu primeiro mandato no Senado Federal, ocupou tantos espaços que nem mesmo aqueles oriundos de estados com tradições maiores conseguiram. É presidente da poderosa Comissão Mista de Orçamento, vice-líder do governo, integra 20 comissões do Senado, entre titularidades e suplências. Tem autoridade para intervir, inclusive, em copa do mundo, olimpíadas e paraolimpíadas, pois integra as comissões pertinentes. De quebra, é o corregedor da casa.

Mas, a sua grande contribuição está na capacidade de trabalho, na inquietação e em
transformar o seu mandato paraibano e em mandato nacional, como poucos parlamentares têm hoje no Brasil.

A discussão da distribuição dos Royalties do petróleo demonstrou bem essa abrangência. Vital teve coragem e encarou a discussão. Encontrou solução boa para todo o país e protegeu também os estados produtores, a fim de que nada, ou muito pouco, venham a perder. Propôs mudanças de modo suave, para que elas ocorram de forma gradativa. E o que é melhor: todos, isso mesmo, todos os estados brasileiros participarão do lucro. Só a nossa Paraíba ganha mais de 400 milhões já no próximo ano.

Fez o debate com humildade e encarou outro paraibano que, embora tenha o dever de defender o estado onde foi eleito, o lindo Rio, poderia ter feito pelo menos uma ressalva. Aqueles apegos afetivos que em geral todos temos quando se trata da terra natal. Só uma ressalva. Não o fez porque nem de longe demonstra qualquer apego à Paraíba. A terrinha ficou mesmo para trás.

Vital foi para a tribuna e encarou as perguntas, o debate, o ataque, tudo, enfim, direto da tribuna. Foi quase uma sabatina. Os senadores não têm muito o hábito de fazer desse modo. Em geral, esse debate fica nos bastidores e as respostas ficam para os técnicos, de modo burocrático.

Vital respondeu, ele mesmo, demonstrando conhecimento da causa. Ao final, o Brasil levou a melhor. Derrota para o outro paraibano, com mandato carioca/fluminense que pensa ser o Rio o centro do mundo. E o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) dizendo: “Senador, Vossa Excelência, foi Vital para o Brasil”.

A batalha e a vitória de Vitalzinho no Senado passaram como uma lufada de vento por aqui. Afinal, estávamos entranhados no apelo chato do assume ou não assume o mandato de senador e na tentativa de fazer crer que a gestão de Campina Grande nada tinha a vê com a AACD, importante conquista para a Paraíba, que teve o mérito de quem articulou, porém não seria viável sem o compromisso de pagar a conta, assumido pelo prefeito Veneziano Vital do Rego.

Talvez, mas só talvez, haja até uns e outros torcendo para que o substitutivo dos royalties ainda naufrague, pois há ainda outras batalhas no Congresso em torno do tema.

Vital fez a sua parte e já partiu para outra tarefa igualmente importante. Voltou os olhos e a energia para o orçamento.

No feriado veio para a terrinha e convidou os deputados paraibanos para “irem às emendas”, na assembléia legislativa. Todos foram chamados, sem partidos, preferências, todos, puderam brigar junto com ele pela Paraíba. É assim que faz quando se tem um mandato paraibano e nacional, grande.


Vi pouco destaque ou não vi na proporção do tamanho dos fatos. A própria imprensa, que cobra discussões importantes, não destaca quando há ações dessa envergadura. Também ela está empenhada em outras pautas. Agora, a discussão “mais importante” tem sido quem deve ser o presidente do PSDB. Foi pautada assim e assim tem sido. Esquecem todos que o cargo não está vago.

Mas, temos sorte. A Paraíba tem sorte. Vitalzinho tem um mandato nacional. Entretanto, faz questão de ser Paraibano. E é de Campina Grande, de quem diz ser um “Office boy” em Brasília.

Que assim seja, senador!

Em tempo: Jamais poderá se vê Vital cabisbaixo, ensimesmado, a vítima, o coitadinho. O seu estilo é outro. E não raras vezes o adversário lança a pecha de arrogância. É nada! O caso é que Vital, mesmo na adversidade, tem altivez, uma espécie de lastro para a luta.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Altitude 1000 e Ivan Angelo

Relendo coisas antigas encontrei um papel dobrado, coisa da década de 1980 quando eu lia muito poesia e crônicas, que sempre adorei. Ávida, apressada, no limiar da altitude 1000 de Brasília.
Como tínhamos liberdade naquele tempo ! E as opções para nós, tão jovens, eram infinitas. Vi em Brasília tanta gente boa: Cássia Eller, Rubi, Legião urbana, Capital Inicial, Zélia Cristina (hoje Ducan). Tanta gente...

Mas, voltando ao meu papelzinho dobrado, antigo. Eis que encontro um texto do maravilhoso Ivan Ângelo. Ficou ali em meio a outros papéis por tanto tempo, de um tempo lindo quando eu ainda tinha até mãe.

Reparto com vocês esse texto ímpar em um dia de muita saudade.

E se você não conhece Ivan Ângelo, não perca tempo. Vá atrás. É um autor incrível.

VAI
Ivan Angelo

Quer ir? Vai. Eu não vou segurar. Uma coisa que não dá certo é segurar uma pessoa contra a vontade, apelar pro lado emocional. De um jeito ou de outro isso vira contra a gente mais tarde: não fui porque você não deixou, ou: não fui porque você chorou. Sabe, existem umas harmonias em que é bom a gente não mexer. Estraga a música. Tem a hora dos violinos e tem a hora dos tambores.

Eu compreendo, compreendo perfeitamente. Olha, e até admito: você muda pra melhor. Fora de brincadeira, acho mesmo. Eu sei das minhas limitações, pensei muito nisso quando tava tentando te entender. É, é um defeito meu, considerar as pessoas em primeiro lugar. Concordo. Mas não tem mais jeito, eu sou assim. Paciência.

Sabe por que eu digo que você muda pra melhor? Ele faz tanta coisa melhor do que eu! Verdade. Tanta coisa que eu não aprendi por falta de tempo, de oportunidade - ora, pra que ficar me justificando? Não aprendi por falta de jeito, de talento, essa é que é a verdade. Eu sei ver as qualidades de uma pessoa, mesmo quando é um homem que vai roubar minha namorada. Roubar não: ganhar.

Compara. Ele dança muito bem, até chama a atenção. Campeão de natação, anda de bicicleta como um acrobata de circo, é bom de moto, sabe atirar, é fera no volante, caça e acha, monta a cavalo, mete o braço, pesca, veleja, mergulha... Não tem companhia melhor.

Eu danço mal, você sabe. Não consegui ultrapassar aquela fronteira larga entre a timidez e a ousadia, entre a discrição e o exibicionismo, que separa o mau e o bom bailarinos. Nunca fui muito além daquela fase em que uma amiga compadecida precisava sussurrar no meu ouvido: dois pra lá, dois pra cá.

Atravessar uma piscina eu atravesso, uma vez, duas talvez, mas três? Menino de cidade, e modesto, não tive córrego nem piscina. É com olhos invejosos que eu o vejo na água, afiado como se tivesse escamas. Moto? Meu Deus, quem sou eu. Pra ser bom nisso é preciso ter aquele ar de quem vai passar roncando na frente ou por cima de todo mundo - e esse ar ele tem.

O jeito como ele dirige um carro é humilhante. Já viajei com ele, encolhido e maravilhado. Você conhece o jeitão, essa coisa da velocidade. Não vou ter nunca aquela noção de tempo, a decisão, o domínio que ele tem. Cada um na sua. Eu troquei a volúpia de chegar rapidinho pelo prazer de estar a caminho. No amor também.

Aí é que eu tou perdido mesmo, no capítulo da coragem. Ele faz e acontece, já vi. Mas eu? Quantas vezes já levei desaforo pra casa. Levei e levo. Se um cachorro late pra mim na rua, vou lá e mordo ele? Eu não. Mudo de calçada.

Vai. Olha, não quero dizer que o que eu vou falar agora tenha importância pra você, que possa ter influído na sua decisão, mas ele tem mais dinheiro também, você sabe. Ele tem até, sabe?, aquele ar corajoso dos ricos, aquela confiança de entrar nos lugares. Eu não. Muito cristal me intimida. Os meus lugares são uns escondidos onde o garçom é amigo, o dono me confessa segredos, o cozinheiro acena lá do quadradinho e me reserva o melhor naco. É mais caloroso, mas não compensa o brilho, de jeito nenhum.

Ele é moderno, decidido. Num restaurante não te oferece primeiro a cadeira, não observa se você tá servida, não oferece mais vinho. Combina, não é?, com um tipo de feminismo. A mulher que se sente, peça o que quiser, sirva-se, chame o garçom quando precisar. Também não procura saber se você tá satisfeita. Eu sei que é assim que se usa agora. Até no amor. Já eu sou meio antigo, ultrapassado, gosto de umas cortesias.

Também não vou dizer que ele é melhor do que eu em tudo. Isso não. Eu sei por exemplo uns poemas de cor. Li alguns livros, sei fazer papagaio de papel, posso cozinhar uns dois ou três pratos com categoria, tenho certa paciência pra ouvir, sei uma ótima massagem pra dor nas costas, mastigo de boca fechada, levo jeito com crianças, conheço umas orquídeas, tenho facilidade pra descobrir onde colocar umas carícias, minhas camisas são lindas, sei umas coisas de cinema, não bato em mulher.

E não sou rancoroso. Leva a chave para o caso de querer voltar.

Ivan Ângelo nasceu em 1936 e é mineiro de Barbacena. Começou sua carreira de escritor aos 21 anos na revista de arte e cultura editada em Belo Horizonte, "Complemento". Publicou seu primeiro livro, "Homem sofrendo no quarto", em 1959, conquistando o prêmio "Cidade de Belo Horizonte". Em 1961, lançou "Duas faces", com sete dos contos premiados, alguns novos e dois do amigo Silviano Santiago. Mudou-se para São Paulo em 1965. A revolução iniciada em abril de 1964 inibe sua produção literária. Seu romance "A festa", iniciado em 1963, só foi concluído em 1975. Publicado no anos seguinte, conquistou o prêmio Jabuti. Outros livros do autor: "A casa de vidro", "A face horrível" (prêmio APCA-1986), "Amor?" (prêmio Jabuti - 1995), "O comprador de aventuras e outras crônicas", "História em ão e inha", "O ladrão de sonhos e outras histórias", "Pode me beijar se quiser" (prêmio APCA-1999), e "O vestido luminoso da princesa", entre outros. Mantém coluna semanal no Jornal da Tarde - São Paulo (SP). Seus livros já foram publicados na França, EUA, Alemanha e Áustria. Na área jornalística, trabalhou no Correio de Minas, Diário de Minas e O Tempo, como colunista; no Jornal da Tarde (SP) como editor, editor-executivo e secretário de redação, e colaborador das revistas Playboy e Veja.